Transcorria o ano de 1974. O município vizinho de Chapecó, Xaxim, também tinha sua cooperativa: a Cooperxaxiense, criada em 1950. Ela possuía uma boa estrutura de veículos que recolhiam a produção dos associados e levavam-na para venda em São Paulo e Rio de Janeiro, uma loja moderna, um moinho, estrutura de armazenagem para 150 mil sacas de grãos, além de três filiais e 1242 associados. A Cooperchapecó, criada em 1967, tinha sua nova sede recém inaugurada, trabalhava com capacidade de armazenagem de 300.000 mil sacas, uma razoável frota de veículos, cinco filiais e 1517 associados. Na área de abrangência das duas cooperativas, segundo dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA, 1974), havia 16 mil propriedades. Durante Assembleia Geral Extraordinária realizada em 27 de novembro de 1974, em Cordilheira Alta/SC, associados da Cooperchapecó e da Cooperxaxiense autorizam a união das cooperativas. A partir de janeiro de 1975, a razão social passa a ser Cooperativa Regional Alfa Ltda.- Cooperalfa. Segundo Elói Frazzon, técnico da Acaresc, que coordenava o PROESTE, “Nos anos 1950 e início dos 1960, a Cooperativa Xaxiense cresceu. Mas, no início da década de 1970, ela estava muito devagar. Tinha um pequeno moinho de trigo, mas só podia moer em sistema colonial, porque o controle do trigo era estatal. Fizemos um projeto para um armazém, mas estava lento o processo. A cooperativa de Chapecó também não estava na melhor situação.” Ainda nos primeiros anos da década de 1970, as diretorias das duas cooperativas começaram as conversações para transformá-las em uma única entidade, mais forte e com área de atuação ampliada. A união teve um grande articulador: Elói Frazzon,: “A única exigência do pessoal de Xaxim foi de que não constasse o nome de nenhuma das duas cidades na razão social. Quando fui levar a decisão de Xaxim para o Aury, ele respondeu: ‘Diga para o pessoal de Xaxim que o nome não vai pagar nenhuma duplicata. Vamos primeiro fazer a união das duas, depois a gente escolhe o nome’.” Depois de muitas negociações, os associados aprovaram a fusão, em assembleia realizada em Cordilheira Alta, no meio do caminho entre Chapecó e Xaxim, no dia 27 de novembro de 1974. Sobre a escolha da nomenclatura, Elói Frazzon afirma que os nomes originais foram descartados, porque limitavam-se na sua própria grafia a um município. A nova cooperativa nascia forte e abrangente, e recebeu o nome de Alfa. Sugerido por Moises Pollak, ex-gerente técnico da OCESC, “Alfa” faz referência à primeira letra do alfabeto grego e à estrela mais brilhante na constelação de Centaurus. A denominação ganhou o apoio dos associados, que aprovaram a novo nome em assembleia no dia 17 de dezembro do mesmo ano. Elói Frazzon destaca que a união das duas cooperativas foi um marco histórico para o cooperativismo agropecuário do oeste catarinense, pois sua importância não ficou restrita ao fortalecimento da entidade resultante dessa união.
Como foi a primeira união de cooperativas agropecuárias da região oeste catarinense, e os resultados foram robustos, inspirou outras incorporações, seguindo o mesmo modelo, na década de 1970. Todas foram motivadas e trabalhadas pelos órgãos de assistência ao cooperativismo, através do PROESTE. Depois dessa união, a Cooperalfa se tornou a maior cooperativa agropecuária de Santa Catarina e renovou as esperanças para o futuro do cooperativismo. No entanto, era necessário acreditar nessa fusão, como o fez Waldir Pavan, do município de Xaxim: “Meu pai, Luiz Pavan, era sócio fundador da Xaxiense, mas a cooperativa teve problemas. Então juntaram com a de Chapecó e fizeram a Alfa. O meu pai logo entrou na Alfa, mas alguns estavam meio desconfiados e não se associaram. Depois que viram que dava certo, os outros também ingressaram na cooperativa. Eu sou associado, o meu filho também, e agora o meu neto, de 18 anos, decidiu ficar também na agricultura.” Essa união novamente articulou os associados e
colaboradores em prol de uma nova organização para as duas cooperativas, que agora era denominada Cooperalfa. Pedro Holdis lembra com carinho sobre o convite que recebeu: “Alcides Fin veio me perguntar se eu sabia desenhar letreiro. Fui sincero, falei que só sabia fazer o nome. Ele precisava mudar o nome de Cooperchapecó pra Cooperalfa. Tinha que mudar o nome em vários lugares: da parede, do telhado, do silo em Quilombo. Falei que, se me dessem uma oportunidade, eu tentaria fazer. Quando acabei, chamei seu Fin, que aprovou. Então, além de ajudar a Alfa a fazer os letreiros sem gastar muito, eu aprendi uma coisa nova.” Outra lembrança carinhosa desse momento aparece na fala de Maria Noeli (em memória), filha de Domingos Faé, um dos fundadores da Cooperxaxiense. A narração elucida momentos que vivenciou na companhia do pai e do irmão, sobre como o cooperativismo era importante e o quanto seu pai acreditava nele. Essas são marcas que provam queo sistema no oeste catarinense é uma herança passada de geração para geração: “Lembro com muito carinho da época que acompanhava meu pai nas reuniões com os associados, nos primeiros anos da década de 1960, quando eu tinha por volta de 10 anos. Meu pai não sabia dirigir e fez eu e meu irmão Neco aprendermos. Naquela época, não havia restrições em relação a crianças dirigirem. Além de acompanhar meu pai nas reuniões por todo o interior de Xaxim e na conferência dos estoques das filiais de Fernando Machado, São João e Quilombo, lembro em especial de um fato: estávamos um dia andando pela estrada que ia a Quilombo quando meu pai parou na beira da estrada, onde nas margens de uma propriedade estavam agricultores carpindo, com seus chapéus de palha na cabeça. Ele saiu da rural Willys, subiu num toco e começou a falar sobre a cooperativa. Todos os agricultores que estavam nas redondezas foram se aproximando. De imediato, tiraram os chapéus e os colocaram debaixo do braço e, segurando-se na enxada, escutavam com profunda e respeitosa atenção. É um momento que nunca esqueci.
Como não esqueço das assembleias, onde o pai falava e todos os associados prazerosamente compareciam, uma vez que confiavam no projeto e no trabalho colocado à disposição dos agricultores para que juntos fossem fortes.” Ainda com a lembrança em seu Faé, Madar Perin recorda: “Na fusão, eu trabalhava na Xaxiense e fiz a papelada da integração. Uma cooperativa começou a entrar na área de abrangência da outra, então aquilo era suicídio para as duas. Quando aconteceu a incorporação, o Faé era o presidente de honra da Xaxiense; ele era um cara bacana demais, dava a alma para a cooperativa. Na época da junção, a gente estava bem: tinha se recuperado, o armazém estava cheio de adubo, o balanço disponível estava bom, realizável a curto e longo prazo também. Só tinha o armazém financiado, mas era pouca coisa.” A manutenção dos preceitos de união e cooperação prevaleceram durante a fusão das duas cooperativas. Daniel Trentin, de Xaxim, nos deixa um recado importante: “Eu era líder da Xaxiense quando veio a proposta para a cooperativa daqui e de Chapecó se unirem, e apoiei. A junção fortaleceu o cooperativismo na região. Unir-se é sempre melhor, um só não faz nada.