2000 Incorporação da Cooperativa Agropecuária São Miguel

A região do extremo oeste de Santa Catarina, cuja cidade polo é São Miguel do Oeste, tem na agropecuária uma das principais atividades econômicas. A microrregião é uma das maiores bacias leiteiras do País, sendo sede de diversas empresas de captação e industrialização de lácteos. Os investimentos em gado leiteiro foram responsáveis pelo maior crescimento da economia regional nos últimos anos. Por ter várias áreas favoráveis à mecanização, a região também registra relevante produção de grãos, especialmente milho e soja. Na cidade polo da região, localizava-se a Cooperativa Agropecuária São Miguel – Cooper São Miguel. Fundada em 1970, a entidade começou a enfrentar dificuldades financeiras na década de 1990. Como fazia parte do sistema Aurora, a incorporação foi articulada por Aury Bodanese, então presidente, que contava com o apoio do presidente da Alfa, Mário Lanznaster. A Alfa, que durante 29 anos tinha sido administrada por Bodanese, andava muito bem, e enviou um
interventor para São Miguel do Oeste: o escolhido foi Sérgio Giacomelli, que até então trabalhava como gerente de filial. Lauro Scalco, de Guaraciaba, conselheiro Alfa, que iniciou seu trabalho como técnico da Cooper São Miguel no ano de 1976, associou-se três anos depois e assumiu a presidência por volta de 1997/1998, relata que a cooperativa passava por um momento difícil: “Fomos à procura do Aury para nos aconselhar sobre o que fazer. Me lembro bem quando ele disse ‘Nós vamos salvar a situação’. Depois de várias possibilidades analisadas, o Aury propôs que a Alfa incorporasse a São Miguel. O Alcides Fin e o Sérgio Giacomelli vieram para cá para ajustar as coisas. A Aurora foi dando suporte porque, às vezes, não tinha como pagar os funcionários. E aí as coisas começaram a caminhar, fizemos um trabalho com as lideranças e, um ano antes da incorporação, já tínhamos um resultado positivo.” Na véspera de partir de férias para a praia com a família, Giacomelli foi chamado por Aury e ouviu dele “Eu tenho uma missão para ti a partir de amanhã cedo.” E não adiantaram os argumentos de que o seu Aury não era mais o presidente da Alfa e que agora era o Mário Lanznaster; ou que a filial de Águas de Chapecó não poderia ser abandonada de um momento para o outro, muito menos das férias com a família. “O melhor é que ele não me perguntou se eu queria ou não, só me deu a missão. Quando falei com a mulher que não podia mais ir para a praia, fui contar na área da casa, porque era mais seguro”, conta Giacomelli, rindo. Sérgio Antônio Giacomelli recorda dessa época dizendo que, quando foi trabalhar de interventor na Cooper São Miguel, não sabia se iria de mudança para lá. “O Aury me dizia ‘Em 60 ou 90 dias você arruma aquilo lá.’ Depois que analisamos a situação, seu Alcides Fin falou ‘Melhor você ir atrás de um apartamento ou de uma casa aqui, porque isso vai longe.’ Ficamos trabalhando mais de dois anos até acertar tudo. Conseguimos fazer a incorporação pela Alfa e, quando entregamos a cooperativa para o gerente que foi assumir a filial, era uma regional que estava muito bem. Pegamos a São Miguel com saldo negativo e entregamos à Alfa com resultado positivo. O apoio dos associados foi fundamental.” Em dois anos, a Cooper São Miguel estava organizada para se unir à Alfa. Embora os sócios da Cooper São Miguel concordassem que ela estava sem condições financeiras para seguir sozinha, alguns associados, antes de votar pela incorporação, fizeram visitas às estruturas da Alfa em Chapecó. Gelain Normélio Barp, de São Miguel do Oeste, lembra: “Eu era do Conselho de Administração da Cooper São Miguel. Achava que não tinha que incorporar com a Alfa. O Mário Lanznaster veio conversar. Fomos então a Chapecó para conhecer a Alfa. Ficamos dois dias visitando filiais, a fábrica de ração da Aurora e a indústria de farinha. Daí ficamos convencidos que a incorporação seria boa para os associados da São Miguel. Então chamamos a assembleia para definir com os sócios pela incorporação. A cooperativa é a melhor saída para o agricultor.” Os associados da Cooper São Miguel que passaram a ser da Alfa rememoram seus vínculos com a fundação da cooperativa no extremo oeste. Nilton Shanne, de Paraíso, contou que seu pai “[…] era um dos que ajudaram no início da Cooper São Miguel. E eu fui sócio desde 1980. Fui na reunião de incorporação; todo mundo aprovou porque a São Miguel estava falida. A Alfa assumiu e foi pagando as contas. Valeu a pena: em poucos anos nossa Cota-Capital dobrou.” Clair Barp, ex-colaborador da Cooper São Miguel, hoje gerente em Coronel Freitas, entende que a Cooper São Miguel “[…] foi uma cooperativa que deu certo. Se nós olharmos o histórico das cooperativas, todas elas tiveram um momento de dificuldade. E a grande jogada daquele conselho foi pegar um negócio que ainda era bom e dar para outra cooperativa, o que ficou melhor ainda.” Com a efetivação da incorporação no ano 2000, a Cooperalfa retomou a confiança do cooperativismo na região e, pela primeira vez na sua história, deu um passo grande rumo à expansão. Sezer Luiz Bellei, gerente da filial de São Miguel do Oeste, conta que, devido às experiências anteriores com as cooperativas, “[…] em algumas regiões do Extremo Oeste, quando a Cooperalfa abria uma filial e se instalava, os agricultores não aceitavam bem. Diziam que ela iria explorar os produtores. Demoravam para se associar. Só depois de um tempo eles viam a mudança que estava acontecendo ali, que a Cooperalfa tinha identidade e transparência.” José Ademir Link, de Palma Sola, relatou que seu pai era da São Miguel e já havia passado por outras duas cooperativas que decretaram falência. Por esses motivos, “[…] entramos na Alfa um pouco receosos. Sempre que o Sérgio Giacomelli vinha aqui reunir o pessoal e explicar a situação da Cooper São Miguel, a gente ia lá ouvir. Vimos que a única saída para todos seria a Alfa assumir. As dívidas eram muitas. Tínhamos medo de ter que colocar dinheiro do bolso para pagar as contas. Então todos votaram pela junção, e foi muito bom. A Alfa é sólida, não é aventureira.” A cultura do cooperativismo sério e valorizando a humanização dos processos foi elemento fundamental para que os associados da São Miguel aceitassem e assumissem junto da Alfa o desafio de promover o crescimento também no Extremo Oeste do estado. Irineu Schneider, de Guaraciaba, explica que não sabe o que aconteceu com a Cooper São Miguel, pois “[…] ela ia bem até a troca de presidente. Então a coisa foi para trás. Eu era líder, e concordei da Alfa incorporar a São Miguel. Eu era a favor de unir porque a gente gostava do cooperativismo, é uma família. Além do mais, o seu Aury era gente muito séria”.

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